O Rali de Portugal sempre fez sobressair valores como a rapidez e a audácia. Começou por ter um vencedor português, resistiu às imposições da ditadura e contornou a falta de combustível. Os primeiros anos foram determinantes para a sua consolidação internacional.
O rali começou por ser organizado pelo Grupo Desportivo e Cultural da TAP e, a partir de 1975, pelo Automóvel Club de Portugal. A prova era uma verdadeira aventura e uma maratona por estradas tão difíceis quanto espetaculares, que rapidamente ganharam fama além-fronteiras. As provas especiais de classificação tinham uma importância relativa, já que os ralis à época decidiam-se nos setores de ligação, em estradas abertas ao público com apertados controlos horários e quilómetros “roubados”. César Torres nunca poupou máquinas e pilotos e ganhava quem penalizasse menos.
A primeira edição do Rali Internacional TAP realizou-se em 1967 com a particularidade de os pilotos partirem de dez cidades europeias onde a companhia aérea de bandeira tinha representação. Os participantes concentraram-se em San Sebastian, em Espanha, onde começou verdadeiramente o rali, que tinha 2.332 km, seis etapas, oito classificativas e dezenas de controlos horários apertados. Depois de quatro dias de intensa competição, a prova terminou no Estoril com a vitória de José Carpinteiro Albino, num Renault 8 Gordini, que recebeu o prémio de 60 contos (300 euros).
O Rali Internacional TAP de 1968 ficou igualmente na história por ter 190 inscritos, máximo que perdura até hoje. No ano seguinte, a organização ganhou o reconhecimento internacional quando desclassificou o vencedor Tony Fall por ter entrado no último controlo com dois “penduras” no interior do Lancia Fulvia HF 1600, o terceiro elemento era a sua namorada… Essa foi a forma simpática encontrada pela organização para desclassificar o conceituado piloto inglês, uma vez que havia fortes suspeitas de que tinha trocado de carro durante a última noite do rali. Para a história fica a vitória de Francisco Romãozinho, com o Citroën DS 21 de fábrica.
A prova consolidou-se a nível internacional e os melhores pilotos do mundo queriam correr em Portugal. Em 1970, entrou no Campeonato da Europa e, três anos depois, integrou o primeiro Campeonato do Mundo de ralis, tudo isso graças à determinação de Alfredo César Torres e ao trabalho da sua equipa.
A última edição disputada no tempo da ditadura teve lugar entre 20 e 23 de março de 1974, mas esteve para não se realizar devido à crise petrolífera e ao racionamento de combustível. O Governo português decretou a suspensão das provas de desporto motorizado, o que provocou uma reação enérgica de César Torres. O então diretor de prova conseguiu autorização para realizar o Rali TAP com a gasolina fornecida pela Venezuela, mas numa versão mais curta e sem itinerários de concentração. O instinto político de César Torres conseguiu aquilo que os organizadores dos ralis de Monte-Carlo e da Suécia não conseguiram, e a prova portuguesa foi a primeira do Mundial de 1974. A Fiat dominou um rali extremamente duro, os pilotos praticamente não tiveram descanso, com Raffaele Pinto a vencer ao volante do Fiat 124 Abarth. Foi a última edição do Rali Internacional TAP e a última em tempo de ditadura. Um mês depois, Portugal ganhou a liberdade.